Cena para encenação do dia dos Pais – Capítulo DeMolay de
Ubá
No ano de 1988, em uma
cidadezinha do interior de Minas Gerais, uma jovem mulher passava por um grande
sofrimento sobre o leito de um hospital. A pouca idade, junto com a chegada
prematura de seu filho, colocava sua vida em risco. Aquele tormento para a
equipe médica durou a noite toda e no início da manhã a triste notícia de que a
mãe não havia suportado as dores do parto e que daquele momento em diante
passaria a cuidar do filho na presença do Pai Celestial. Uma mistura de
tristeza profunda e alegria contagiante tomou conta daquele homem, que em sua
simplicidade só tinha a companhia da esposa que partiu cedo de mais. Naquele
turbilhão de emoções, os médicos levaram aquele pai até a incubadora onde o
filho inocente dormia como um anjo no meio de tantos fios e tubos. João Romão
decidiu, em meio às lágrimas, que seria o melhor pai do mundo e que Ricardo
receberia uma educação exemplar, da mesma forma que sua mãe sonhou que seria se
ela ainda estivesse viva.
Os
anos se passaram e Ricardo tornava-se uma criança fantástica. A falta da mãe
era suprida pelo imenso amor descarregado pelo pai. Juntos passavam horas e
horas lapidando uma relação de carinho, respeito e admiração. Os meses de Maio
eram os mais difíceis, na escolinha, Ricardo se sentia desconfortável para
fazer os trabalhinhos do dia das Mães. Mas João Romão, com toda sua
sensibilidade,recebia aquelas lembrancinhas como se fossem joias raras e dignas
de coleção. Em Agosto era tudo diferente! As professoras se surpreendiam com a
beleza dos trabalhos de Ricardo. Só mesmo um amor incondicional entre pai e
filho era capaz de explicar aquela dedicação para homenagear um homem tão bom
quanto o pai daquele garoto.
Tempos
depois Ricardo já se mostra um rapaz bonito. Era impressionante para João Romão
como que o filho ficava cada vez mais parecido com a mãe. O mais espantoso é
que mesmo sem a ter conhecido Ricardo tinha até as mesmas manias que a ela. Sim,
aqueles dois eram verdadeiros amigos. Falavam sobre tudo e quanto mais
conversavam, mais sentiam o prazer de estarem conversando juntos.
No
ano em que Ricardo entrou para a faculdade e deu o primeiro passo para a
carreira de Advogado, pai e filho tiveram outra surpresa. João Romão descobriu
que possuía uma doença degenerativa e que não haveria ao certo hora de partir.
E mais uma vez, na vida daquele homem, o destino brincava com suas emoções. No
meio da felicidade no sonho do filho a tristeza de uma doença que colocaria fim
naquela amizade.
Dois
anos depois eles já acreditavam que os médicos erraram no diagnóstico, João
Romão estava firme e alegre pelo sucesso crescente de Ricardo. As longas
conversas já não eram as mesmas, inverteram-se os papeis. Agora era João Romão
quem se admirava com a inteligência do filho. Certa tarde, em uma dessas
conversas aconteceu o pior. João Romão foi levado às pressas para o hospital e
de lá nunca mais retornou pra casa.
Nunca
se viu aquele jovem tão desesperado! Não podia acreditar no que saia da boca
dos médicos. Não queria ser medicado, preferiu estar lúcido para poder
acompanhar o pai até o final aonde tudo acabaria de fato.
Já era de
madrugada quando o Padre chegou à capela onde o pai de Ricardo estava sendo
velado. Assim como todos aqueles poucos que foram prestar suas últimas
homenagens àquele homem, o Padre reparou na sala onde estava o caixão, ele
esperou que a capela esvaziar-se um pouco e chamou Ricardo para conversarem em
particular:
- Meu jovem... Tenho o costume de visitar a
capela todas as noites para trazer uma mensagem de conforto àqueles que estão
abalados pela dor da perda. Hoje não poderia ser diferente. Entretanto, notei
algo muito diferente. Mesmo em famílias carentes estou acostumado de ver a
capela toda decorada. Mas veja em volta. Nem mesmo uma coroa de flores, nem há
decorações de flores no caixão. O que houve?
Ricardo Então Responde: - Sr. Padre, de fato não há nenhuma flor. Eu prefiro
assim. Meu pai foi tão especial, tão meu amigo... Foi o meu tudo, que todas as
flores que eu podia dar a ele, eu as dei quando ele podia
me retribuir com um sorriso e um abraço. Padre, todo perfume e delicadeza das
flores eu dei para o meu pai enquanto ele estava vivo!
Nisso, o Padre Emocionado diz: Meu filho... Que bonito! Confesso que estou desconcertado.
Perdoe este pobre homem que só agora pode entender o que significa o amor
filial. Mas tenha a certeza de que terei somente amor no coração para rezar por
seu pai e onde ele estiver, estará cercado por flores que nunca perderão o
aroma e nem a beleza.
Daquele dia em diante, Ricardo seguiu sua vida. Sentia-se
menos completo, mas ia adiante. Nada poderia suprir a falta do seu pai. Mas ele
tinha uma certeza e nela ele se mantem até nos dias de hoje. Dizia ele: “A
única maneira que eu tenho para agradecer meu pai é sendo para o meu filho todo
o que o Sr. João Romão foi para mim”.
Texto de Guilherme Lopes de
Carvalho.
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