Era uma tarde nublada. O vento zunia pelas ruas em mais uma tarde de agosto daquele
inverno um tanto forte de 2010. O centro da cidade de Ubá estava calmo,
mostrando uma cena rara e melancólica (porém, fazia a mente meditar). Os olhos
daquele iniciático jovem e cheio de vontade brilhavam em meio a um dia que
alguns diriam ser desprezível. Não é pra menos: Este dia é o tão esperado dia.
O dia que durou seis meses para chegar. O dia em que todas as esperanças,
promessas, aprendizados e vontades se sagrariam para o resto da vida:
Era o dia
de sua elevação.
Não quis saber muito
da prova da Olimpíada de Física que teve na parte da manhã. Não havia maneira
de fazer os tão famosos cálculos: a caneta e o lápis tremiam em sua mão. Sua
mente não focava nos números, e sim no mistério, delicioso de desfrutar,
envolvendo o que aconteceria dali a algumas horas. Apenas foi para a escola,
fez a prova com certa pressa e a entregou para o Professor (para sua surpresa,
descobriria dali a uns dias sua aprovação na segunda fase da competição).
Sentia-se como se sentiria um formando de uma faculdade ou curso: em suas veias
corriam o sentimento de merecimento. Merecimento justo, pensava. Mas sempre
lembrava que ainda havia algo mais para se aprender, para se descobrir. Afinal,
para ele, sua jornada começaria, verdadeiramente, nesse dia.
O traje, tantas vezes
utilizado, parecia ser mais difícil de se vestir, hoje. A gravata não se
ajustava em uma posição simetricamente perfeita e digna em seu colarinho. Mas, para sua felicidade, ainda tinha
duas horas para se aprontar. O ponteiro do relógio fazia o tic-tac habitual em
um ritmo cada vez mais lento, tornando-se um tic… tac…. tic….. tac……
- Pai, vamos? A gente
vai se atrasar desse jeito!
- Seu compromisso não
é às 17 horas? – o garoto concordou com um leve aceno da cabeça. – Então! A
gente tem ainda meia hora!
- Prefiro chegar mais
cedo… – e, improvisando uma desculpa – Foi combinado que nós chegássemos meia
hora antes!
Exatos quinze minutos
depois, o carro parava enfrente ao velho sítio perto da loja.Como era bom estar ali de
novo, pensava ele! A brisa que batia nas Folhas das arvores, trazia o frescor
das lembranças de sua primeira vez ali: quando ainda não carregava o título
honroso de membro da Ordem; de quando apresentou sua primeira cerimônia e fez
sua mãe e avó chorarem. Os olhos do garoto apenas brilhavam.
No meio daquela calmaria, nada mais faziam do que brilhar. Beijou seu pai e
adentrou o templo. Porém não só, como na iniciação, mas rodeado de IRMÃOS
Até hoje ele não sabe
o que acontece: custa apenas juntar-se a seus irmãos, que seu espírito se
renova; as mágoas são deixadas do lado de fora; seus passos são mais leves.
Enquanto os preparativos eram feitos, ficaria em uma sala esperando o momento
certo com seus irmãos iniciáticos. Ainda bem que seus Tios não os viam, afinal, era
bagunça só (fruto da ansiedade). Nada lhe tirava o sorriso do rosto.
Tudo pronto, deu-se
início a sua passagem para outro patamar. É desnecessário descrever o que
passou pelos olhos do jovem. Apenas ele saberia descrever. Melhor, penso que
nem ao menos ele seria capaz de tal feito, pois foi algo tão pessoal, tão
sentimental, que palavras não seriam suficientes. Agora, ele poderia afirmar
apenas uma coisa: eu sou um irmão, sou um DeMolay.
Era chegado o momento
de se manifestar. Tinha vontade de ser o primeiro a se levantar, mas algo o
impedia: as palavras sumiam! Tudo o que ele havia planejado dizer, parecia
significar nada naquele instante. Porém, após as breves palavras do irmão a seu
lado, uma força o empurrou para cima:
- Boa noite a
todos! – começou com a costumeira saudação – Eu gostaria…
"Gostaria do que?"- pensou - As
pernas tremiam; o coração batia mais rápido e mais forte; as mãos, tão usadas
na hora de falar, lhe falhavam; os olhos começavam a parecer uma piscina
enchida até a metade.então a meio a Discretas lágrimas e soluços;..
- Gostaria… de dizer apenas
uma palavra hoje: obrigado. – A piscina se enchera demais e começara a vazar –
Obrigado pela oportunidade… por estar aqui hoje … – a voz já não saía mais a
mesma – … isso é tudo… boa noite…
Desmontou na cadeira.
Algumas sinceras lágrimas ainda lhe corriam no rosto. Enxugava, discretamente,
com medo de que isso pudesse ser envergonhoso. Por mais que não o fosse. Chorou
nesse dia pelos momentos que havia passado ali dentro; pelas dificuldades que
enfrentara em alguns momentos; pelas felicidades e sorrisos trocados nos bons
instantes; pelas provações que encontrou fora do ninho das reuniões; pelas
promessas que tomara; por seus pais.
Chorou enfim um choro diferente;
Um choro
com lágrimas inocentes. Com lágrimas iniciáticas; com lágrimas
DeMolay.
Posso garantir que esse texto reflete a forma como todos os iniciáticos, dignos da cerimônia de elevação ao grau DeMolay, sentem-se. Garanto em meu nome, pois é desta forma que me sinto hoje, às vésperas de minha elevação; e acredito que me sentirei assim no momento, até pq só quem vive isto sabe o quanto é especial. Ótimo texto.
ResponderExcluirEspero encontrar o autor no CNOD 2012 e expressar-lhe a gratidão por ter redigido com tão belas palavras.
Sou DeMolay vou eleva mês que vem
ResponderExcluirBelíssimo texto!
ResponderExcluir